terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Mark Knopfler, o "errado" que deu certo - Parte 2 e 4/8

... E novamente na saga das seis cordas do Sr. Knopfler...

Durante a época 'super criativa' (leia-se anos 80), os órfãos de Rock n' Roll poderiam dizer que havia um porto seguro. Não o único, mas certamente a música do Sr. Knopfler era um deles.

Apesar de não considerar a banda Dire Straits/Mark Knopfler como 'Rock', ela tem seus momentos de "rebeldia controlada". E é exatamente aí que entra a nova fase guitarrística do Sr. Knopfler.

Após o álbum 'super shredder finger picking' Alchemy. Mark Knopfler não poderia parar e mais uma vez o bicho ia pegar.


E pegou...?

E como! Mas antes da tempestade, vem a calmaria.
Nesse 'período maracujina', o Sr. Knopfler nos presenteia com mais 2 trilhas sonoras.

[Cal]
'Cal', vem repleta de ambiências dramáticas, gaitas escocesas, flautas e um sentimento meio 'Highlander'. Todo disco é bem calminho, repleto de sintetizadores e algumas guitarras.

Mais uma vez a prova que guitarra não é tudo, nem 100%. Principalmente no quesito trilha sonora.

Ótimas composições estão nessa trilha. Vide 'The Long Road', 'Irish Boy', 'Father and Son' e a interessante 'Fear and Hatred'. 


Pra mim, ouvir trilhas sonoras bem elaboradas é como ouvir Pink Floyd. Tudo gira em torno de uma temática ou uma pequena melodia.


[Confort and Joy]
Numa vibe diferente, Knopfler vem com outra trilha sonora (Vá gostar de trilha assim...)

A coisa gira em torno de músicas dos Straits mais três composições originais para o filme, uma delas bem na cola do 'Weather Report'. Isso mesmo! Uma pena Jaco não estar bem do juízo, porque certamente ele seria o cara pra esse 'funk jazzeado' intitulado de 'Joy'




E a tempestade...?

Bum! Só se for agora!
Depois do sossego e água de coco, o Sr. Knopfler chama a trupe do barulho pra gravar um punhado de 9 canções na Ilha de Monserrat

Pois bem, todo mundo de shortinho Adidas, camisetas brancas e poses bem estranhas! Porque a gravação vai começar!

[Olha a foto! Welcome to the 80's]
Nesse clima festivo e descontraído, foi chocado o 'ovo de ouro' do Sr. Knopfler.

Uma reunião de canções impecáveis, umas 'meio pop' e outras épicas, o disco que se segue é simplesmente perfeito.

Pra essa empreitada seguir os moldes da perfeição, foi adicionado um segundo tecladista (Guy Fletcher), um Saxofonista e mais uma penca de gente. Incluindo 2 baixistas: O grande 'StickMan' Tony Levin e o não menos 'grooveiro' Neil Jason. Acredito que esses dois vem pra suprir o instrumentista mais 'fraco' da banda.

[Brothers in Arms]
BAM! O que se segue é uma enxurrada de músicas, texturas e sons de arrasar.

Toda parafernália técnica estava disponível para os Straits na época, tudo mesmo!

O Sr. Knopfler grava todas as guitarras desse disco. De acordo com meu amigo Brunno Nunes, esse chega a ser considerado o seu primeiro trabalho solo, visto que nem seu baixista de longa data John Illsley grava todas as músicas.



Mas e as guitarras....?

[O 'Pé de Galo' olhando as belezinhas do disco]



Aqui ó!
Aí estão Gibson Les Paul (não é a 59, muito menos a 58), Gibson L6, acredito que uma Gibson 175, Fenders Strato e Tele bem como as famosas Schecters e um Violao Martin que não sei a referência (Atenção meu especialista Pedrão! Que Martin é esse?). Não estão na foto, mas entram aí também o famigerado Dobro National, uma Steiberber com 2 EMGs e uma Guitarra Pensa Custom (não é a que vocês estão pensando) ligada num SynthClaviar que vivia dando pau!

No quesito amplificadores, os Marshalls estão em evidência. Nas gravações foram usados Plexi e JTM, amps Jim Kelley, Laney e possivelmente Mesa Boogie (finalmente escrevi certo).

Sobre execução de guitarra, o Sr. Knopfler dá o show de sempre. O Do Jazz ao Rock, e o drive, que era meio discreto, em certas ocasiões dá o tom das canções.

Basicamente, O 'Sr. Gosto de Guitarras' usou o seguinte rack de efeitos:

-Roland SRE555 Chorus/Echo
-Delt Lab Digital Delay
-MicMix Dyna-Flanger
-Master Room Reverb Unit
-Roland Graphic EQ

-Ibanez UE303 Multi Effect

E um monte de Boss:
-CE300 Chorus
-DM2 Delay
-CS2 Compressor
-2 CE2 Chorus
-BF2 Flanger
-PH2 Phaser
-OC2 Octaver

Muita tranqueira, não? Pois é, eu disse que estava tudo disponível.



Ah, bestão... Tá faltando um pedal aí....!!

Tô ligado, mas foi um acidente de percurso!
Todo mundo sabe que o timbre de 'Money For Nothing' vem, em sua essência, de um Wah-Wah Cry Baby numa posição fixa. Por isso aquele 'som de cano'

Mas esse som aconteceu por acaso, isso porque, em resumo, alguém pisou no 'Cry Baby' durante um intervalo, e quando o 'Sr. Knopfler' foi timbrar pela nonagésima vez sua Gibson Les Paul pra esse música, o som estava lá! O resto é história.



Cadê o som de cano...?

Toma aí!
[Money For Nothing - só guitarra SHOW!!]
A bronca aqui é grande! 
Aqui é totalmente perceptível a presença das 'ghosts notes', logicamente evidenciadas pelo drive, muito ritmo e power chords (que de power não tem nada)

Nesse take estão contidas 2 guitarras, a base e o overdub, que é ligeiramente diferente da base, o que traz naturalidade à faixa.

Lí em algum lugar que durante a gravação dessa faixa, que no disco tem 8 minutos, um dos produtores, Neil Dorfsman, sugeriu que Mark solasse extensamente durante os minutos finais da música. A resposta do mestre foi: "- Like an Rock guy??"

Resultado.... NO WAY! E a coisa toda já fala por si.


E tem mais...?

Do cano? Não! só aí mesmo!
Emfim, no restante do disco o Sr. Knopfler nos presenteia com o alto nível de guitarradas. Tem palheta e slide em 'Mans Too Strong', um Reggae intrincado cheio de climas com muito som de strato em 'Ride Across The River', guitarras synth em 'So Far Away', progressões de acorde sensacionais na "motelesca" 'Your Lastest Trick', psicodelia em 'Why Worry', Twist de Telecaster em 'Walk of Life' e o começo de uma paixão por Les Paul em 'Brothers in Arms'.

Pra quem quer tocar feito o mestre, a dificuldade está apenas na mão do ritmo, o resto não é complicado não! Complicada é a mente do rapaz!



Massa! E então, vamos ao disco...?

[Brothers In Arms - 1985]
SETLIST:



1- So Far Away
2- Money For Nothing
3- Walk of Life
4- Your Latest Trick
5- Why Worry
6- Ride Across The River
7- The Man's Too Strong
8- One World
9- Brothers In Arms







Mais uma vez, depois desse disco, o resto é história!

E a canção 'Brothers In Arms' hein!? Pelamor... É um show de sensibilidade com uma Les Paul ligeiramente fora de fase e pedal de volume, interpretação magistral!


E esse som 'fora de fase'..???

Todo mundo sabe o que é, mas no caso da Les Paul reissue fabricada 1984 do Sr. Knopfler, um dos knobs é um inversor gradual de fase. Então há aí um som 'meio termo' entre Les Paul tradicional e a Les Paul do Peter Green!


Talvez o show que resuma bem essa fase dos Straits é o famoso concerto no 'Wembley Arena' durante o 'Live Aid'. Mas eu acho o show final na Austrália como o resumo dessa coisa toda.

Lá vai!



[Dire Straits - Live Sydney - 1986]






















É muita coisa pra absorver, não? Pois é, tanta coisa que o Sr. Knopfler cansou da banda e depois de um zilhão de shows entre 1985 e 1986 o homem deu uma pausa.




Calmaria e notas podres...


Depois do sucesso da banda, o Sr. Knopfler foi encontrar velhos amigos, tocar Elvis e Country, relaxar o bigode e tocar nos discos de quem ele achava legal, gravar mais algumas trilhas. Enfim, Nada que o exigisse demais.

Nessa pegadinha se fortaleceu a amizade com o então cachaceiro Eric Clapton. Diz a lenda que um influenciava o outro de maneira indireta, eu não acredito. Bom, com essa parceria, nuvens negras pairavam sobre a cabeça do Sr. Knopfler. Isso porque poucas vezes consegui ouvir uma colaboração tão ruim!


Ah, tá bom! Knopfler e Clapton... ruim...?

[Aaargh!]
Ruim não! Horrível! Sabe quando chamam você pra tocar numa banda que você não sabe o que fazer? Pois isso aconteceu com o Sr. Knopfler. Seu estilo único e eclético de nada adiantou com Sr. Clapton. Até hoje não ouvi nenhuma música tocada pelos dois entre 1987 e 1989 que não fosse um desastre. Além disso, Clapton vivia a sua fase musicalmente mais estranha.
(Vou deixar isso pro post sobre o Sr. Clapton)

Um DVD de uma tranqueira dessas é vendido em bancas de revista. O 'After Midnight' Custa em média R$9,90. Por favor, NÃO COMPREM!

É tão ruim, que nem vou colocar um videozinho aqui!

Procurem por 'Twelft Night' que vocês vão entender o que eu digo.



Nessa época aí, começou uma tremenda parceria entre Knopfler, Rudy Pensa e John Suhr, que iria resultar em uma as guitarras mais foda que eu já vi!



Vem aí... A Favorita!

[Plim - Plim]
Rudy Pensa possui uma loja muito legal em NYC chamada 'Rudy Music Shop'. Ele é um colecionador de guitarras e também fazia serviços autorizados para Fender e principalmente para a Schecter. O grande John Suhr nessa época, trabalhava tanto pra Rudy quando para o Sr. Knopfler.


Durante 1984 e 1988 essa parceria entre Rudy, Mark e John iria resultar em um desejo do Sr. Knopfler de possuir uma guitarra com uma gama maior de timbres. Foi aí que nasceu a 'Pensa Suhr'.


Mas como tudo é um processo de tentativa e erro, vieram vários protótipos, até chegar na versão final.

Existe toda aquela história de que a guitarra nasceu num guardanapo de cafeteria. Mas pra mim, como dizem os grigos: - Bullshit!

Logicamente, outras guitarras foram surgindo e sendo usadas até chegar na sua versão final.


[Orange Foam - 1984]
A primeira de todas, provavelmente foi essa strato feita de 'Structural Foam' ou 'Compensado' o som é esquisito, mas legal.

Basicamente uma strato com captadores legais.

Depois dessa aí, que veio meio 'por acaso', a coisa começa a tomar forma e nasce o que pra mim é o protótipo final.

[MK Special - 1986]
Essa mocinha aqui foi usada muitas vezes. Foi a guitarra número 1 do Sr. Knopfler até meados de 1988. Já é quase a forma final do que seria a MK-1. tanto que seu nome é "Mark Knopfler Special"

Possui um corpo em Mogno, braço em Maple e escala em Rosewood ou Ébano. Possuia Captadores EMGs '85-Sa-Sa' e diferente das próximas guitarras, o Floyd funciona!



[Early MK1]

Essa outra mocinha aqui foi usada durante as gravações do 'Land of Dreams' de Randy Newman. É basicamente a mesma especificação da 'MK Special'. Porém, nela estão adicionados um knob de tonalidade com um "push-pull secreto". 

Provavelmente essa guitarra foi descartada após o nascimento da próxima belezinha



Agora... A Favorita!

[Plim Plim! Pensa Suhr MK1 - 1988]
Aqui não!

Essa exata guitarra foi a 'menina dos olhos' do Sr. Knopfler. Tá vendo que ela não nasceu num guardanapo!

Ela tem uma série de paranoias ou frescuras que foram aplicadas somente nessa guitarra!

Além de ser uma guitarra feita pra tocar tudo (que era o desejo do Sr. Mark Knopfler) ela tem toda a pinta de uma guitarra feita exatamente pra isso. Tanto que o Sr. Knopfler conseguia fazer 90% do Show somente com ela.

Ela vem com um corpitcho em Mogno, Top em 'Carved Flamed Maple', braço em Maple com escala em Ébano, Floyd Rose travado. 

Detalhe dos captadores EMG (85-Sa-Sa) é que o humbucker é montado direto na madeira, sendo que a moldura desse captador é todo o tampo de maple. Trabalho de um gênio chamado John Suhr. Isso porque o Sr. Knopfler não gostava das molduras. 

Continuando, os EMGs ativos eram moda na época, além de eliminar as frequências de rádio, nas mãos certas, falavam muito. 

O push-pull secreto no 'tom' liga o SPC (ou Fat Control) no talo. Dando uma engordada geral no som da guitarra. Em resumo, uma guitarra que até hoje tem seus seguidores.

Essa guitarra, junto com a Fender Strato, é a marca registrada visual ou sonora do Sr. knopfler!

E a estreia oficial tinha que ser num show bacana. Era no concerto para Nelson Mandela em 1988, e ao lado de Eric Clapton. (Tenho pena dessa guitarra entre esse show e o final da turnê com Clapton. A coitada deve ter se achado muito mal nascida)

Mas e o som....?


Bem a estreia 'Não Oficial' aconteceu no show 'Pré Mandela' e ela não decepciona. 
Nesse show está o embrião do que seria o 'som Knopfler' dos anos 90!

[Hammersmith Odeon - Warm up concert for Mandela]




É MUITO SOM MEU PIRRAIA!


Já escrevi demais por hoje!

Falo da 1º ressurreição no próximo post junto com mais um monte de tranqueira, leia-se Pensa Suhr, Gibson 1958....


Abraço e até lá!


Arthur

Um comentário:

  1. quanto ao martin, caro ami, é auditorium...provavelmente um 00-18 top de linha e/ou antigo (linha antiga).

    krooommmm

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