segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Mark Knopfler, o "errado" que deu certo - Parte 2

[feliz da vida, não?]
Continuando a saga do 'Sr. Só Sorrisos' em questão, após conquistar sua virada musical e guitarrística, O Pequeno Mark agora pode expandir, e muito, seus horizontes musicais. 
Toda aquela testosterona 'guitarral' havia ficado pra trás, dando lugar a um fraseado firme com timbres que beiravam a perfeição. O mundo estava de ponta cabeça com a 'nova música oitentista' e seus astros de cabelos tipo Poodle, porém, a falta de cabelos do 'Sr. Narigudo' foi a "blindagem natural" para que sua música evoluísse pra uma outra direção.




Arthur.... Foco nas guitarras hoje, tá?

Tá! Mas vocês viram os vídeos? Bem, tomara que sim, porque lá está o "segredo" (que não é segredo pra ninguém) da versatilidade do fingerstyle do homem. Repararam no polegar fazendo os baixos e as 'ghosts notes'? Reparem também que uma coisa praticamente abolida pelo Sr. Knopfler foi o uso da alavanca (que usava pouco, e agora quase nunca).
Colado com o crescimento da banda, estava a parafernália das guitarras. Em outras épocas sendo apenas um par de amplificadores Music Man e 2 guitarras Fender, agora eram 2 cabeçotes Mesa Booguie de 100w, 2 Music Mans, acrescidos de um rack de efeitos com delay, chorus, flanger, compressor, equalizador e o famigerado pedal de volume Ernie Ball. Sem esquecer de um par de Schecter Stratocasters, 1 Schecter Tele e um Dobro National 1938!


Mas e ai...?

Aqui, nada! Vamos ver o dos outros porque lá é refresco!
Vamos ver agora a canção 'Down to the Waterline' após esse período de transição do Sr. Knopfler.

[Down to the Waterline - Dortmund 1981]
Detalhe, no hall dos piores sons de guitarra 'ao vivo', esse está com certeza no meu top 5. São raros os show dessa época (que eu ouvi) que tem um bom som de guitarra. Não sei como ele aguentava esse timbre horrível.

Porém, o fraseado está impecável, firme e decidido. Hoje em dia, as primeiras versões dessa música soam melhores, talvez pela 'volta do vintage' ou somente porque não estão nos anos 80. Mas é uma bela versão.


Eu percebo, que a partir dessa época, o fraseado do Sr. Knopfler começa a ficar cada vez mais único, realmente um 'approach' muito particular. O que antes era uma caixa cheia de 'licks dos outros' agora, já é um mundo de 'licks próprios', o que futuramente pode "complicar" sua vida. Mas essa parte é lá pra frente.


Trilhas sonoras, sons milenares e muito progressivo...
Bem, depois da brincadeira vem a coisa séria! Buscando mais uma vez uma mudança na sonoridade (Depois de perder a virgindade nesse assunto, fica mais fácil), o Sr. Knopfler começa uma jornada que vai se tornar quase um padrão na sua música. Esse período pode ser talvez o mais criativo em termos musicais e guitarrísticos do 'Sr. ScottishMan' até hoje!

Uma dica do mestre (não necessariamente essa palavras): "Sempre procuro tocar guitarra com a TV desligada. Conectar as imagens com o meu som é sempre instigante. Recomendo a todos!"
Pra mim, talvez, o grande lance do Sr. Knopfler é ser músico em primeiro lugar. Suas composições nem sempre são para guitarra. Logicamente, a guitarra é o seu meio de expressão, por isso sua evidência. Mas existem trilhas inteiras compostas pelo Sr. Knopfler que não existe uma única guitarra/violão.
Outro ponto a ser frisado é: Nada ocorre por acaso, tudo é uma questão de tentativa e erro(ou acerto). Muitas das músicas de qualquer instrumentista vem de idéias, climas ou concepções temporárias. Músicas inteiras do Sr. Knopfler e de muitos outros são colchas de retalhos de partes criadas com ou sem um propósito específico. Por exemplo, ouçam 'Raise My Rent' e 'What Do You Want From Me' do David Gilmour e notem o bendito "reaproveitamento".



Arthur... Foco! Foco!
Tradução livre: "Pat Metheny uma vez me perguntou de onde eu tirava essas ideias, ele me disse que essas músicas parecem ter mil anos."

[Love Over Gold]
Essa frase resume o que seriam os 2 álbuns que irei tratar em conjunto. A trilha sonora 'Local Hero' e o discááááço 'Love Over Gold'

Uma das milhões de influências do Sr. Knopfler é certamente a Música Escocesa e a Música Celta. Juntou isso com uma pegada Country/Folk e mais uma pitada de Rock Progressivo meio na cola do Rick Wakemann, teremos a base do 'ambiente Knopfler'.
[Local Hero]
Não sei até que ponto esses dois discos, ou se há, alguma interação no estúdio comum entre os músicos nesses dois espetaculares álbuns.

Toda a ideia cinematográfica do Sr. Knopfler se tornou realidade quando foi chamado para compor a trilha do filme 'Local Hero'. Sendo assim a sua primeira trilha sonora. E é uma 'sonzera' sem fim.


Basicamente, no set de instrumentos estão para esses dois discos estão Stratocasters Fender, Schecter e Fernandes. Telecasters Fender e Schecter, Violões Ovation entre outros. A imagem fala por si.

[As meninas de ouro]


Gostou? Eu também!
Nessa época também começa outra paixão do Sr. Knopfler. 'Classical Guitar' ou como é conhecido nessas bandas, Violão de Nylon! Talvez o violão de Nylon mais conhecido em suas mãos é o 'Gibson Chet Atkins'. E o rapazinho em questão dá um show de execução em 'Private Investigations' e 'Love over Gold' com solos, de mais uma vez, tirar o chapéu. Já já chego lá.
Mais uma vez, o fraseado do Sr. Knopfler é acrescentado de melodias e frases 'milenares', tudo é uma obra de arte. Nesse ponto, acabaram-se os 'slaps' na strato e toda aquela 'vibe de banda de pub' acabou. Nessa época, o Sr. Mark já beirava os 34 anos e não era mais nenhum moleque!



Mas vamos as guitarradas!
Esse álbum inteiro é uma obra prima. Músicas progressivas longas, guitarras mil, timbres marcantes e um lirismo que beira uma sinfonia. Esse é o 'Love Over Gold'!

Pra abrir o disco nada melhor que a clássica, e tocada até hoje, 'Telegraph Road'. Nela, o Sr. Knopfler faz uma senhora execução. Se música é feita pra contar uma hostória, essa música já vale a história do disco todo. Todos aqueles licks de country estão lá, porém agora com uma novidade: O drive

Esse moço aparece meio discreto, mas pra quem até hoje só ouviu coletâneas do Dire Straits, essa é a base timbrística do seu som até hoje.

Uma opinião pessoal minha: "Sempre acredito que tudo tem sua hora, seu climax. É legal ir pra um show ou ouvir um disco onde o foco é a improvisação, eu mesmo sou um grande fã de improvisações extensas e atonalismo livre. Mas ouvir uma obra que te leva a imaginar uma história é surreal. Cada parte tem um foco; no quesito instrumento, cada sessão tem um foco em um instrumento diferente e as partes levam a um encaixe perfeito que renova tudo denovo. Isso é impagável!"

Além dessas guitarradas todas, aqui, nesse disco, entram os fraseados celtas/flamencos do 'Sr. Climax Musical' em questão. Tudo isso sem fritação, nada nem um pouco cansativo!

Então, para o alto, e avante!

[Love Over Gold - 1982]
SETLIST:
1- Telegraph Road
2- Private Ivestigations
3- Industrial Desease
4- Love Over Gold
5- It Never Rains

Banda:
Gtr/Voc - Mark Knopfler
Tec - Alan Clark

Gtr - Hal Lindes

Bx/Bvoc - John Illsley

Btr/Bvoc - Pick WithernsMarimbas - Mike Mainieri


Pra quem curtia o 'som de pub', ou o 'Rock Elegante' à lá Bruce Springsteen, se sentiu violado (no bom sentido, apesar da malícia).
E pra quem só curte guitarra, novamente, o Sr. Knopfler não deixa a desejar. Levando o ouvinte pra uma sensação as vezes relaxante, outras vezes angustiante (no melhor dos sentidos)
Sem muito blá blá blá, ok...?
Tá bom, confesso. Sou prolixo e fã numero 2 da banda. Então, fudeu!
Continuando....
Na mesma "pegada" vem a bendita trilha sonora do 'Sr. Faço de Tudo'.
Um belíssimo disco, cheio de participações especialíssimas e músicas de partir o coração.
Aqui, o Sr. Knopfler toca tudo, guitarra, violões (inclusive o único solo de 12 cordas do moço na vida), teclados, sintetizadores, e até programação de bateria.

Não vou me estender no setlist. Não por ser trilha sonora ou porque não o foco é outro. Mas porque o papo é longo e eu não sei muito sobre essa gravação.

PS. Inclusive peço ao meu amigo, e maior conhecedor dessas histórias, Brunno Nunes do universodirestraits.blogspot.com
que conte as histórias das gravações desse disco.
Bom, lá vai!
[Local Hero - 1983]
Atenção para as músicas:
Wild theme
Freeway Flyer
The Way It Always Starts
Smooching
Going Home (Theme of the Local Hero)
Vocês vão perceber ja já que a união faz a força. Tudo isso vai pra um lugar espetacular, é só continuar lendo mais um pouquinho.
Nesse disco, as 'Schecters Dream Machines' estão com tudo. Todas as ligações possíveis são usadas nesse disco. A menina dos olhos do Sr. Knopfler novamente se mostrava a ferramenta ideal pra suas composições.
Pra trás, depois pra frente...
Depois de compor a banda com novos membros, um novo LP era esperado. Todos queriam, ou esperavam, uma coisa ainda mais nova, diferente, ousada... Pois foi! O "disco novo" dos Straits era um EP, ou compacto, com 4 músicas digamos.... Rock Abilly! Pure 50's!!!

 [Extende dDanc'eP'lay]
Mas nesse EP não deixam de ter guitarras! De uma maneira novamente diferente, como sempre, mas tem! Nesse disco, Knopfler toca de tudo quanto é jeito, 'de dedo' e de palheta!


De palheta...??!!

Sim, sim! Saibam que o Sr. Knopfler poderia ter sido um fritador dos maiores se usasse somente palheta. Inclusive tem uma porção de músicas dele tocadas de palheta!

Nesse EP, está presente um estilo subentendido no seu fraseado. O Jazz, basicamente o de de New Orleans, está descarado nesse compacto. Ouçam 'Badges Posters and T-shirts' que vocês vão ouvir exatamente o que estou dizendo aqui.


Aqui também aparece o novo baterista da banda, o 'Show Man' Terry Williams. Esse cara, segundo populares, era o baterista cinematográfico que o Sr. Knopfler tanto queria. O que novamente vai influenciar toda a pegada do rapaz.



"Apoi", vamos ao disco!


[Extende dDanc'eP'lay - 1982]
SETLIST:
 
1- Twisting By the Pool (Aqui o solo de palheta)
2- Badges, Posters, Stickers and T-Shirts
3- Two Young Lovers
4- If I Had You (Mais palheta e "bailinho")

Banda:

Gtr/Voc - Mark Knopfler
Tc - Alan Clark

Gtr - Hal Lindes

Bx/Bvoc - John Illsley

Btr/Bvoc - Pick Witherns / Terry Williams


Bem diferente pra ser Dire Straits, não? Bem talvez por isso esse EP não é extamente um disco oficial da banda. Parece mais uma brincadeira entre amigos, mas já sem aquela coisa despojada e inocente de outrora.




A união fez a força...

E finalmente, o "Gran Finale"(Dessa parte, é lógico). Depois dessa trifeta, nada como coroar esse período com uma performance da que na época, ao meu ver, era 'A melhor banda ao vivo'. Toda cinematografia, toda a angústia e lirismo aliada a uma das melhores, talvez a melhor, performance guitarrística do Sr. Knopfler de todos os tempos

A Alquimia estava completa! 

Nesse disco, o 'Sr. Performance' está com a macaca. E pra fazer jus a grandeza, o set de guitarras tinha que ser impecável.

Aqui estão as Schecters em sua plenitude. 2 Stratos e uma Tele (ambas Schecter), 1 Gibson SG, 1 Gibson chet Atkins e o famigerado Dobro National. Tudo Ligado em amplicadores Mesa Booguie e um rack de pedais Boss, Mxr, Ernie Ball e tudo isso provavelmente integrado uma pedaleira Pete Cornish.

Tudo foi gravado em apenas 2 noites (creio que o disco todo é da primeira). As versões são de tirar todos os chapéus. Estão nesse concerto, as melhores versões das músicas do Mark Knopfler até então.

Notem a evolução de 'Once Upon a Time in The West', que passou de um 'Reggae Folk' pra uma música poderosa. As frases do Sr. Knopfler são fogo total... Cromatismos, diminutos, tudo...! Todo esse disco é ambientado da Trilha de 'Local Hero'. Então se preparem pra viajar!



[Alchemy - 1984]

SETLIST:
1-  Once Upon A Time In The West
2-  Expresso Love (de palheta)
3-  Romeo And Juliet (Nylon no fim)
outtake - Love Over Gold (Nylon)
4-  Private Investigations (e tome Nylon)
5-  Sultans of Swing (aqui é que é bronca)
6-  Two Young Lovers
7-  Tunnel Of Love (...)
8-  Telegraph Road (não vou nem falar)
9-  Solid Rock
10- Going Home: Theme Of The Local Hero

Guitarra aqui é boia! Pra os guitarristas de plantão, esse é imperdível!
E o Dire Straits/Mark Knopfler agora era GIGANTE!

E puta que pariu!!!!



Próximo post: A favorita, timbres matadores, a canseira, Clapton e as 'notas podres', 'raízes e parcerias' e o 1º ressurgimento.


Obrigado pela paciência e até breve!


abraço,
Arthur

6 comentários:

  1. Arthur,
    PQP. Blog alto nível.
    Parabéns cara! Tá muito bom!
    Rodrigo "Yog"

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    1. Valeu Rodrigo!
      Que bom que você gostou.
      Estou me esforçando pra deixar o blog legal!

      abraço e obrigado,
      Arthur

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  2. Da onde você tira estas ideias? Sr. gênio !

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    1. São apenas memórias e algumas suposições. O resto, aprendi com o Nelson Rubens!

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  3. Demais Arthur!
    Sobre Telegraph Road, essa música me dá a sensação de ver um pintor trabalhando sua obra sobre uma tela, sem pressa, cuidando de cada detalhe, procurando causar vários sentimentos nos espectadores. Genial.

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  4. Concordo totalmente com o que você disse, Oscar.

    Realmente, Telegraph Road é o carro chefe das "músicas climáticas" do MK.


    abraço!

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