quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Mark Knopfler, o "errado" que deu certo - Parte 1 e 2/4

[o que será de mim]
Continuando a saga guitarrística do Sr. Knopfler, vamos começar a falar sobre um período de grandes mudanças no relacionamento guitarra/homem ao qual viveu esse sujeito ai. Ai entram em cena novas guitarras, novos timbres, novas composições... um caminho totalmente diferente do percorrido até o comecinho de 1980.

Sabe quando a gente cansa de tocar uma coisa e fica doido pra mudar, mas não consegue porque a banda ainda toca essa mesma coisa? Pois é, essa era a situação do Sr. Knopfler até o comecinho de 1980. Só que no caso a "banda" era encarnada pela gravadora e seus produtores. Então, com um voto de confiança, o 'Dedos Velozes' aí mudou, e pra melhor (ou não).


3º Disco, brigas, novas guitarras e mudanças


Todo mundo sabe a história que o Mark expulsa o seu irmãozinho da banda porque ele queria mais espaço na banda, não tocava lá essas coisas todas, etc, etc...

Não, Não sei....
Então vai lá no universodirestraits.blogspot.com e se delicie com as fofocas vintage dos irmão Knopfler.


[Making Movies - 1980]
Em 1979, durante as gravações do 3º disco da banda, intitulado de 'Making Movies' as músicas do sr. Knopfler não estavam lá essas coisas todas. A coisa toda consistia em basicamente: 'mais do mesmo'. Apenas com uma pegada mais Rocker do que o habitual.

A timbragem da coisa não mudara tanto desde então, Fenders Strato em amplis Music Man. Porém apos toda essa história de irmão x irmãozinho, Mark, incontente com tudo da uma pausa nas gravações. A partir daí, uma série de acontecimentos marca a virada musical do Sr. Knopfler.


Bruce Springsteen e o rock elegante...

[bóóóoorn in the Iuéssêi]
Uma coisa que passa, as vezes, desapercebida pra quem curte o som do Mark Knopfler, é a presença do 'Mr. Born in The USA' aí. Todo aquele cenário de Rock Elegante e músicas com arranjos grandiosos e uma linguagem pop propiciado pelo Mr. Bruce influenciaram diretamente a quebra do paradigma da música do Sr. Knopfler. Talvez o sonho de ser Norte Americano tenha invadido a mente do 'nem tão jovem' Escocês que tanto gostamos.



Calma, já estou chegando na parte que interessa...


Mas, logo então, o Sr. Knopfler percebeu que alguma coisa faltava para então, a mudança acontecer. Uma ferramenta pra ajustar tudo o que ele precisava. Foi aí que o parafuso encontrou a porca.


Parceria com Tom Anderson e as Schecter Dream Machines....


Percebido que talvez o problema estivesses no seu timbre, o 'Sr. Strato Vermelha' foi até Van Nuys, California, para adquirir uma guitarra de responsa. A Fender vinha deixando a desejar nas suas guitarras e equipamentos vintage não eram essa obsessão que é duns anos pra cá.
[Schecter Dream Machine]
Foi então que Tom Anderson (esse mesmo), que na época trabalhava na 'Schecter Guitar Research' ficou incumbido de fazer uma algumas guitarras top pro então 'quase renovado' Sr. Strato.

Mas que Schecter é guitarra de metaleiro...

De uns anos pra cá é sim! Mas até 1980/1981 As Schecter eram guitarras custom shop caríssimas. Seu nome 'Dream Machine' já diz tudo. Eram guitarras feitas com madeiras lindíssimas, captadores custom calibrados individualmente e um acabamento impecável. É só digitar no "Pai dos Burros": 'Schecter Van Nuys' ou 'Schecter Dream Machine' que vocês vão ver do que se trata.

Pois bem, essa belezinha aí foi o caso de amor desse rapaz. Ela não tinha aquele som de Fender, havia ali uma strato renovada e com uma sonoridade que era uma luva para o que o Sr. Knopfler procurava.
Essa moça tinha corpo em Mogno, braço em Birdseye Maple, ferragens de bronze, escudo de alumínio e captadores Monster Tone 'tappeados' com chaves individuais pra cada 1 deles.


E que danado são esses 'tappeados'?

Captadores tapped, são captadores que possuem 2 saídas. 
É como humbucker full e split ou full e paralelo?....NÃO!

São como 2 captadores em 1 single. Single.... SINGLE!!!! Que possuem 2 camadas de boninas, e 3 fios (terra, bobina 1 e bobina 2). Sendo que a bonina 2 está ligada a bobina 1, que funciona sozinha
Exemplo:
Com a b1 ligada: saída de 6k
Com a b2 ligada: saída de 12k

[chaves dos captadores Schecter]
Resultado: Uma combinação de 26 timbres diferentes em 1 só strato com 3 singles! 

E fazia diferença...?

E como! Principalmente para o Sr. Knopfler, que agora possuía a ferramenta que precisava.

PS: Sério macacada, cada guitarra tem uma história particular. Todo guitarrista do mundo deveria ter ao menos 3 guitarras. Uma Strato, uma Tele e uma Les Paul. Os timbres que elas produzem individualmente são uma verdadeira inspiração.


Mas, e a diferença...?

Já já chego com a prova dos nove! 
Ainda tenho que falar que depois do 'fogo amigo' no 'Band of Brothers' fez sua vítima, essa guitarra elegante precisava de uma banda igualmente elegante pra que a coisa toda se firmasse. Foi aí que o Sr. Knopfler chamou o 'E-Streeter' Roy Bittan (pra quem não sabe, o 'E-Street' era o nome da banda de Bruce Springsteen) e o produtor Jimmy Iovine, que era co-autor de alguma(s) música(s) junto com o 'Sr. Born in the USA' e o guitarrista Sid McGinnis, que até hoje toca no programa do David Lethermann.


E o que isso tem a ver com guitarra...?

Tudo! Toda a concepção do disco estava na cabeça do Sr. Knopfler. Enfim, a sonhada liberdade artística que ele tanto queria, estava a um passo de se realizar, e com a banda certa. Essa banda, iria pegar toda a ideia de um disco cinematográfico e transformar em outro prato de macarrão ao sugo pra o Sr. Mark Knopfler demonstrar todo seu 'novo lirismo' na guitarra.

Pois bem, inspiração é tudo. E pra quem é músico, no nosso caso guitarrista, o background sonoro é tudo o que precisamos pra deitar e rolar.


Arthur, Caralh... E a diferença entre a Fender e a Schecter...??

Tá bom! Na Mesma música então! O que queria dizer é que um guitarrista ou qualquer tipo de solista não é NADA sem sua banda.

Então a bendita diferença em... Solid Rock!


[Solid Rock com Fender]
E tome Fender... Notem o fraseado e timbre já bem cansados do 'Sr. Careca Disfarçado' aí.
Essa versão da música foi gravada em 1979, poucos meses antes da versão final.

A banda é a mesma de sempre até 1980:

Gtr/Voc - Mark Knopfler
Gtr/Bvoc - David Knopfler
Bx/Bvoc - John Illsley
Btr/Bvoc - Pick Witherns

[Solid Rock com a 'Máquina dos Sonhos']
Agora, notem a evolução do fraseado e timbre do homem! Toda textura da música foi revigorada e a então cinematográfica 'Solid Rock' tomou forma. Reparem também na 'pressão' imposta pela Schecter. Como eu disse, não soa como uma Fender, mas pra época, esse era o melhor som de strato que existia

E a banda também mudara e agora o 'DirE-Street' (gostaram?) era uma orquestrinha metida besta (no bom sentido)




Finalmente o Disco e a danada da mudança


Toda aquela guitarrada dos 2 primeiros discos vai meio que por agua a baixo. Então pra quem escuta música de guitarra com 30 segundos de "tema" e 5 minutos de frfrfrfrfrfrfrf... Aqui é o fim da linha!

Quem toca guitarra é músico, e músico faz o que é bom pra música. Nesse quesito o guitarrista aqui em questão faz um super trabalho.

Tudo que se ouviu de Mark Knopfler até então, foi por terra com esse disco. A atmosfera do disco como um todo era tudo que todos os músicos da banda precisavam pra simplesmente destruir.
Nesse disco esta, pra mim, talvez o solo mais bonito do Sr. Knopfler. Em 'Tunnel of Love' ele faz só o que pode com sua Schecter.

Os "petardos" guitarrísticos desse disco são: 
'Tunnel of Love'
'Expresso Love'
'Skateaway' (Aqui, um festival de licks Country de pistoleiro do velho oeste ficar com medo)
'Solid Rock'
Nesse disco etá a eterna romântica 'Romeo and Juliet' que pra quem conhece a história, A música nasceu de uma tarde com o velho Dobro Resonator afinado em G aberto (Atenção! Todas as músicas tocadas tanto no Dobro quanto em slide do Dire Straits estão na afinação G Aberto - D-G-D-G-B-d). E que saibam que a introdução dessa música é um plágio de uma música do Sr. Springsteen, que eu não sei o nome, tocada em 12 rotações. Taí a prova da influência do Bruce na música do Sr. Knopfler até então.
O show das guitarras desse disco estão no quesito 'parede'. É uma em cima da outra e muitas camadas de guitarra. É Como eu disse lá atrás, "Nunca somente de solos faz um guitarrista". Claro que a presença do "excluído" Sid McGinnis fez a diferença também. As bases da músicas e a 'dobrada' no solo de Expresso Love, deixam Mark tranquilo pra fazer o que mais sabe: Pergunta e resposta, inversões de acordes e timbrar (e que timbre tem esse disco)
[Making Movies - 1980]
SETLIST:
Tunnel of Love
Romeo and Juliet
Skateaway
Expresso Love
Hand in Hand
Solid Rock
Les Boys

Banda:
Gtr/Voc - Mark Knopfler
Gtr - Sid McGinnis
Bx/Bvoc - John Illsley
Btr/Bvoc - Pick Witherns


A partir desse disco, a 'Orquestrinha Metida a Besta' estava bem encaminhada e as correntes da mesmice haviam sido quabradas.


Mas eu quero é Guitarra!!!!!


Como diria o "aumentador" Nelson Rubens: Ok, Ok....
O fraseado do Sr. Knopfler fica mais conciso, as músicas não são mais aquela mistura de ritmos e tudo se encaixa pra uma nova direção. Temos menos malabarismos de guitarra, porém temos um fraseado firme e potente. Os amplificadores realmente saturam e o overdrive, mesmo de leve, aparece pela primeira vez. Os acordes estão mais complexos (Skateaway) e mais músicas em tons maiores, que são geralmente o caos para os 'pentatoneiros menores'.

O arsenal das guitarras consistem basicamente em Schecters stratos e uma tele, violões Ovation Adams (de Fibra, argh) e a boa e velha Burns Baldwin 12 cordas. De amplificadores, com certeza os Music Mans, acho que alguns Marshalls ou Mesa Booguie. Como eu disse, timbres 100% vintage estavam fora de moda.


Cadê? Cadê o 'homi' tocando??


Vamos ver a bendita da Schecter em ação agora! Notem o timbre mais forte que o habitual nas Fenders. Nessas 2 músicas que se seguem, não há exatamente solos. A onda é mostrar o timbre e a postura de um super-guitarrista em favor da música. Simplesmente gênio!

[Sr. Knopfler pergunta: -Solar pra que?]


Puta Merda, Arthur! Escreveu isso tudo e só se passou 1 ano!

Vai andar mais rápido, prometo. Mas eu avisei lá no 1º post, vou escrever de uma maneira mais romântica, que é bem prolixa! Mas vamos que vamos porque depois dessa adolescência musical tardia do 'Menino Knopfler', a fase adulta desse rapaz nos contempla som seus sons milenares, temas instrumentais e um festival de execuções guitarrísticas que mata muito cardíaco por aí. Essa parte sim, merece um post exclusivo.


Até a próxima parte!

10 comentários:

  1. Incrível texto! :) você é o melhor

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  2. ...amigo a primeira banda que eu coloquei como a preferida..., entre tantas foi Dire Straits..., tendo como líder Mark K...., seu diferencial em dedilhar uma guita fez total diferença entre tantas outras no referido quesito..., parabéns por seu documentário com tanta exatidão..., e obg...

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  3. Mark Knopfler é um dos melhores guitarristas e compositores do planeta... lembro da primeira musica que ouvi da banda Dire Straits (Sultans Of Swing), desse dia em diante não consegui mais abandonar as musicas dele na época era da banda!

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  6. Mark Knopfler é um dos melhores guitarristas e compositores do planeta... lembro da primeira musica que ouvi da banda Dire Straits (Sultans Of Swing), desse dia em diante não consegui mais abandonar as musicas dele na época era da banda!

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    Respostas
    1. Concordo plenamente, Borghy. Ser um dos melhores não é tocar como os outros, mas sim ser referência.
      E isso o MK é, e muito.
      Conheço poucos compositores que tão singulares como ele. A simbiose entre o 'Caipira' e o 'Moderno', pra mim, é simplesmente perfeita.


      abraço!

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  7. Juliet...top demais, parabéns pelo post

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