terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Herbert Vianna - Guitarra Ligeira

Ouviram do Ypiranga...


Vamos falar um pouco das nossas margens plácidas. Hoje vou bradar um pouco sobre o Retumbante Herbert Vianna, talvez, talvez não, com certeza o meu guitarrista brasileiro favorito.


Favorito...?


[Herbert 'Heroi' Vianna]
Sim, favorito! Apesar de eu ter uma imensa admiração pelo Sérgio Dias, foi o Herbert que me fez prestar atenção em guitarra nacional a primeira vez. Sendo assim, pela razão emocional, o sol da liberdade brilha nas notas ligeiras do Paraibano Herbert Vianna.




Tá bom, então senta a pua...



Quem, quando moloque, nunca ouviu 'Lanterna dos Afogados inteirinha pra no final ouvir aquele solo? Quem nunca quebrou a cabeça pra tirar o solo de 'Alagados' ou entender, pra quem só sabia maior e menor, de onde ele tirava aquele fraseado de 'Caleidoscópio'...


Pra quem não sabe, Herbert era um estudante frenético de guitarra. Admirador de Jeff Beck (Um de seus discos favoritos é o Wired), Paul Kosoff e logicamente Andy Summers. Herbert uniu todos esses elementos e junto com seus amiguinhos de escola Bi e Barone (esse veio depois, eu sei) fundou uma banda pouco conhecida com o nome horrendo chamado 'Os Paralamas do Sucesso'.

Totalmente inspirada na sonoridade Jazz/Ska/Reggae/Rock do 'The Police', 'Os Paralamas' lançaram seu primeiro LP em 1983 chamado 'Cinema Mudo'.


[Instrumental logo de Cara]
Herbert sempre foi um cara de arriscar, e pra mostrar um pouco disso, ele lança logo no disco de estreia um instrumental bacana intitulada de 'Shopstake'. Logo aí já se via a habilidade de timbrar e criar texturas harmoniosas de Herbert. Lógico que com a 'máquina' João Barone e o super baixo de Bi Ribeiro, a coisa toda ganhava corpo.


O Disco foi um sucesso nacional e a banda já era conhecida como 'A Banda dos Melhores Músicos', visto que o entrosamento e musicalidade da banda estavam num patamar mais elevado do que as outras bandas nacionais. Nesse embalo, Herbert já era considerado um dos grandes guitarristas do Rock Nacional.


[O firmamento]
E pra conquistar com braço forte o firmamento na cena frenética Rock Nacional nos anos 80, A banda crava a estaca e lança o disco 'Passo do Lui'. Nesse disco está o maior sucesso comercial da banda. 'Meu Erro' é antecedida pela incrível e baterística 'Óculos' e acompanhada pelas não menos famosas 'Romance Ideal' e 'SKA'.

Pronto, Herbert e suas stratos já garantiam ali sua aposentadoria.


Agora chegou no ponto....


Também acho! Já contei demais sobre a história da banda e agora vamos falar de guitarra.

Acho que todo mundo sabe que Herbert deve ter umas 100 guitarras. Mas nessa época aí, entre 1983 e 1985 ele tinha somente 10. Sua primeira guitarra boa foi uma Gibson-L6, mas durante essa época ele usava apenas 3 ou 4 guitarras no show, sendo que a Fender Strato era a bola da vez.

[Herbert Vianna e sua Fender The Strat]
Na época a Fender não acertava a mão nas guitarras e tentava inovar com alguma série cavernosa mas que na época era um "espetáculo". Pois então, Herbert possuia 2 Fenders Stratocasters 'The Strat'. Que eram stratos com 3 singles, ponte Dan Smith e Matching Headstock. Uma vermelha e a outra azul.

[O Paralama e sua Ibanez RoadStar?]
As outras favoritas de Herbert eram 2 Ibanez que acredito ser modelos RoadStar. Que por sinal são guitarras muito boas! Mesmo com aquele visual '80's pré Srhed', as danadas falavam muito e tinham uma série de "recursos" como 'Inversão de fase', 'serie-paralelo', ponte 'Floyd Rose' ou 'Khaller'...

Herbert achava que o funcionamento dessas guitarras eram muito complicadas e as usavam pouco em shows.


Tudo era coisa muito simples pra época. Nada de racks gigantescos ou parafernálias quilométricas. A guitarra era plugada em, de acordo com o próprio, um compressor DBX, Um Digial Delay Roland e uma pedaleira Ibanez HD1500. Tudo isso ligado num cabeçote Mesa Boogie com caixas de 4x12 Marshall.

[E foi no... Róquenriiio]
Um dos marcos guitarrísticos de Herbert Vianna foi, sem sombra de dúvida, o show do Rock in Rio 85. Lá ocorreu tudo o que eu resumi até agora, isto é, Reggae/Rock, Fenders, Ibanez, Pedaleiras, muito chorus e solos ligeiros. Reparem no solo "doidêra" de Herbert em 'Patrulha Noturna'.



OK! Depois daí, a coisa toda vai de vento em popa. E o "engraçado" é que quanto melhor Herbert toca, menos guitarra ele põe nas músicas. A harmonia está em primeiro lugar, sempre. Suas músicas sempre tem um toque brasileiro. Acordes de "Bossa Nova", muito arranjo de metais e pianos e por algumas vezes timbres de guitarra duvidosos. Herbert e sua trupe sempre defenderam a inovação em suas músicas. Mesmo durante sua fase Reggae/Dub, sempre tem pelo menos uma grande música por álbum, e nessa grande música, sempre tem um trimbraço de guitarra. 



Não vai falar dos sucessos do Paralamas não...?


Não! Todo mundo conhece todos os sucessos dos Paralamas. E o foco aqui é outro.



[Paulada Paraense - Bundalelê] Enfim, o fraseado "doidêra" foi ficando pra trás e algumas coisas vão entrando em seu lugar. A coisa toda do Rock vai ficando pra trás. Aliás, esse negócio de 'Rock Verdadeiro' nunca vai pegar mesmo no Brasil. Nosso povo heroico possui sangue latino e sente a necessidade de 'mexer o esqueleto'. E nessa onda carnavalesca surgem músicas como 'Carro Velho', 'Outra Beleza', 'Seja Você', 'Jubiabá' e na Instrumental Porrada Paraense 'Bundalelê'.

Essa coisa de brasilidade vem mais a tona nas nordestinas 'O Rio Severino', 'Vai Valer', 'Se Você Me Quer' e nas 'bossalidades'  'Nebulosa do Amor', 'Quase um Segundo'...



Nota reflexiva importante da semana:

Rapaz, se toda banda de carnaval fosse nesse nível, isto é, sem falar do rabo de ninguém e/ou que tenham letras monossilábicas, quem mais ia pular ta aqui!



O cara tinha tanta moral, que durante anos, Herbert foi endossado da Gibson. Isso mesmo, pela Gibson. Me lembro de ir a um show do Skol Rock em 1997 e o Herbert usou umas 4 Gibsons no palco. E fora isso, o 'homi' estava fritando tudo.



[Lanterna dos Afogados - Vâmo Batê Lata] Antes dessa fase Gibson, Herbert teve uma leve amizade com Brian May, este que, durante as gravações do disco Severino (1994) presenteou Herbert com uma de suas novíssimas 'Guild Brian May'. Que eram réplicas de sua famosa Red Special. Essa foi a guitarra usada no disco 'Vâmo Batê Lata' de 1995. E o momento mais foda desse show, mesmo com a baixa qualidade de gravação, foi o inesquecível solo, o mais conhecido de Herbert Vianna, Lanterna dos Afogados.



Bom demais, não? E o melhor disso é a prova do famoso 'menos é mais'. Como eu disse, quanto melhor ele toca, menos guitarra tem nas músicas. E ao vivo, quando o bicho ta pegando, aí é que aparecem as guitarras até então fenomenais de Herbert Vianna.


O tempo passa e como todo artista, Herbert viveu seus momentos de altos e baixos. Bom, baixos dependendo do ponto de vista. Acho que quem lança umas 30 músicas por ano não pode ficar 'de baixa'. Ele faz música pra quem leva música a sério, sem preconceitos, e isso inclui, claro, Ivete Sangalo e Banda Calypso (Depois vou defender o Chimbinha).


Hoje, Herbert não é mais o Herbert guitarrista de antigamente. Claro que ele continua com ótimo fraseado, só o gosto pela complexidade da guitarra se perdeu. Não sei se o acidente que sofreu afetou sua tocabilidade (acredito que não afetou em nada). Acho só que o olhar sobre a vida mudou e certas coisas não fazem mais sentido.


Me lembro de um momento emocionante que vivi, que foi no show da volta dos Paralamas após o acidente de Herbert. Todo mundo estava esperando ele tocar 'Lanterna', quando chegou a hora, todo mundo fez aquele silêncio pra ouvir o solo. Pois chegou a hora do solo e ele.... cagou tudo! Todo mundo ficou pensando: "- Caralho, esse cara já era". Mas parece que ele fez de propósito, ele fez aquele sinal pra banda voltar pro solo e ele arrebentou! Nota por nota... Perfeito!
Então, todos pensamos: -"Caralho... Ele voltou" e fomos a loucura. Todo mundo berrava e gritava - "Heeeeeeerbert, Heeeeeerbert"



E tem mais...?



[Nesse bend ainda bate um coração]
Tem mais não! Claro que, pra mim, Herbert Vianna renderia uns 5 ou 6 posts. Mas hoje quis falar pouco.

Várias coisas aprendi ouvindo Herbert/Paralamas, mas as mais importantes, sem dúvida são: Ninguém faz nada sozinho, que uma bela harmonia vale mais que 10 solos, música não tem fronteira, não precisa ter uma voz maravilhosa pra expressar suas canções e quem persiste vence.


Vida longa ao meu 'Heroi Nacional'.




Pátria amada, Brasil!



Pã...pã... Pããããããããã


8 comentários:

  1. Elogiar tá virando lugar comum. Mais um grande post...

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    1. Obrigado, Christian.

      Ainda me perco bastante nos textos, mas procuro dar sempre meu melhor para escrevê-los.


      Grande abraço,
      Arthur

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  2. Palmas para o post, palmas para o Herbert...

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  3. Post é antigo e só cheguei hoje! Tenho 36 anos e sempre fui um cara iniciante no violão e guitarra, mas se sou iniciante é graças a Herbert, que também é eu Herói da Guitarra!

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    1. Que Legal, André.
      É uma pena que a nova geração está "esquecendo" essa galera.

      Mas sim, Herbert é nosso herói.

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  4. Estou querendo construir uma Custom inspirada nas Gibson que ele tem usado atualmente. Sabe me dizer a configuração delas?

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    1. Olá, Roberto. Rapaz... não faço ideia da configuração da LP atual dele. Mas olha, não deve ser nada muito especial. Ouso dizer que pode ser uma R9... mas é um chute.

      Abraço

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