quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Mark Knopfler, o "errado" que deu certo - Parte 4 e Final! Ufa!

[Saideira...]
Ufa! Dessa vez prometo que termino a saga guitarrística do Sr. Knopfler. Enrolei muito, mas agora vai!

Enfim, depois da euforia guitarrística do Dire Straits, o chefão largou o barco e foi se aventurar em águas rasas.

Depois do quase lançamento do seu disco solo em 1993, o Sr. Markito (agora é com carinho), como disse no final do post anterior, encontra sua nova musa inspiradora. A Gibson Les Paul 1958!


Ah, Ele já tocava de Les Paul nos anos 80... E aí?


Já disse! Aqui, nada! Tudo bem, mas o próprio dizia que essa LP de 1984 não era lá essas coisas, ele gostava mesmo era do visual dela. Tanto que usava ela pouco.

[Ei, aceita cartão?]
Todo mundo sabe que a época mais foda das Gibson Les Paul são as GoldTop 1956 com p90, 1958 e 1959. Isso porque tinha Mogno sobrando e Jacarandá da Bahia legalizado pra usar à vontade, isto é, o cara fazia uma LP completa, se soasse feiosa, jogava fora ou queimava na lareira. Fora isso, os lendários PAFs ainda não haviam sido perdidos. Em resumo, essas guitarras são inacreditáveis, tanto que chegam a valer uma fortuna!


Sim, mas e essa Gibson 58??


O Sr. Knopfler comprou a mocinha dele por volta de 1995 e daí, gravou mais uma punhada de músicas pro disco novo tendo ela, a LP, como alvo.

A Les Paul do Sr. Knopfler é uma standard mesmo. Corpo e braço em Mogno de Honduras/Belize, Escala em Jacarandá da Bahia (Brazilian Rosewood), captadores PAF originais, e, após um fret-job e colocação de trastes dunlop 6100, o bicho pegou! 




O homem gostou tanto dessa LP 58, que várias músicas que ele tocava de strato, ele trocou pela Gibson!

[O homem e a Stratocaster 1954]

Fora essa Les Paul, o Sr. Knopfler também gastou mais um dinheirinho em uma outra Les Paul 1959 e numa Fender Stratocaster 1954, ambas originais. Ainda bem que ele tinha limite no cartão, né?

Enfim, guitarristicamente falando, o fraseado do Sr. Knopfler agora está mais relaxado e vintage, sem falar na gordura do som, que agora é gordo de verdade, com humbucker de verdade. E pra aumentar ainda mais a gordura, acho que ele só foi usar o captador da ponte da sua LP pra alguma coisa lá pra 2007!!!


E o timbre dessa LP 58...?


[Ao vivo com a LP58]

Ta aí! Agora, o Sr. Knopfler não vai mais deixar de saturar seus amplificadores! Em se tratando de Les Pauls, nunca mais!

Podem reparar que o fraseado está mais simples, mais Rock n' Roll, mais purista. E essa fase só irá refinar mais ainda, até meados de 2003, porque depois daí, o timbre continua show mas o guitarrista... nem tanto!







Bom, mas vamos pra fase que o bicho ainda pega!


[Golden Heart - 1996]
SETLIST:

01- Darling Pretty
02- Imelda
03- Golden Heart
04- No Can Do

05- Vic and Ray
06- Don't You Get It

07- A Night in Summer Long Ago
08- Cannibals
09- I'm the Fool
10- Je Suis Désolé
11- Rüdiger
12- Nobody's Got the Gun
13- Done with Bonaparte
14- Are We in Trouble Now


Os pontos fortes em termos de guitarra nesse disco são a novelística Darling Pretty, o 'rockão' Imelda, a vintage Don't You Get It (ambas de Les Paul) e o retorno das Pensas Suhr na introspectiva Vic and Ray e na belíssima Rüdiger. Mas pra mim o show mesmo esta no final de Je Suis Désolé.

Nota-se que novamente o ambiente das músicas muda, agora mais europeias, as músicas são descompromissadas e bacanas. Além disso, essa liberdade faz com que o Sr. Knopfler, preste suas homenagens as músicas tradicionais do Reino Unido.

Nesse disco ainda estão as Schecters Stratos e Teles, Pensas Suhr, Les Pauls, Martins, Dobros a inclusão de outros instrumentos tradicionais como Bouzuki, Mandolin entre outros. 

Pra esse disco e turnê foram usadas 4 Pensas, as ja tradicionais Pensa MK1 e Pensa MKS (Preta) ambas com os então "ultrapassados" captadores EMG e mais 2 recém encomendadas. Ambas com captadores passivos e timbre de strato puxando pro tradicional e sem a parceria com John Suhr.

[Pensa Custom]
Essa mocinha e a próxima foi feita para suprir apenas duas necessidades do Sr. Knopfler. Uma era que ele estava cansado do som dos caps ativos e outra que ele também estava cansado de stratocasters. Porém, como stratos eram sua marca registrada, ele solicitou 2 guitarras que tivessem o shape de uma strato, mas fossem feitas de Mogno e com captadores de altíssima performance, que seriam os Lindy Fralins '54.


[Pensa MK 2]
O homem estava tão maluco por Gibsons e tão desgostoso por stratos que encomendou para Rudy Pensa uma Strato/Gibson, isto é, uma Gibson disfarçada numa strato. Isso porque a MK2 tem o corpo arqueado, ponte tune-o-matic e braço e escala no padrão Gibson. As únicas coisas de strato nessa guitarra são os captadores single, o formato do corpo e do headstock. Só!

Com essas mocinhas, a vida do Sr. Knofler se voltava para o som orgânico.


Mas e ele ligava isso tudo onde?

[Crank it Out]
Nos famosos e quase inseparáveis Soldanos SLO, Marshall JTM, Fender Twin e Crate. Isso mesmo, amplificadores Crate que ele mesmo detestou depois.

Fora isso, ainda havia toda a parafernália de efeitos, que agora era reduzida, pois o homem não queria muito trabalho com os pés.

Pois é, depois que chega certa idade, menos é sempre mais!



Bom, depois do debut como artista solo, o Sr. Knopfler novamente se junta com seus amigos cowboys do Notting Hillbillies para mais uma temporada de shows. Mas agora tudo faz sentido, pois toda cabecinha do Sir Mark está voltada pra música que mais gostava: A simples!


De Les Pauls, Dobros e Strato vintage, o Scottish-Cowboy agora esta pisando em terra firme. 

Lembram do disco do NHB? Não era um vintage com timbres modernosos? Pois agora é vintage, com sonoridade, equipamento e timbre vintage de verdade. É aí que o fraseado jazz-caipira, que se tornaria o cowntry (cáuntri ou k-1-three) prevalece sobre os demais.

[Vintage Knopfler]
Nessa época, MK começa a abandonar quase por completo outra de suas marcas registradas, o pedal de volume.

Bacana dessa fase é que até o ano 2000 Mark Knopfler não lançaria nenhum novo album, apenas trilhas sonoras em que os ambientes se tornam ainda mais vintages.

Todo esse hiato é muito bom, pois o próximo disco será extraordinário, uma mistura perfeita do Dire Straits com a cultura raiz do sul dos Estados Unidos. O próximo disco será também o último em que o Sr. Knopfler mostrará toda sua destreza nas guitarras.


'Guitarrando' para Filadélfia....



[Sailing to Philadelphia]

Pra mim, esse disco sintetiza toda a carreira musical/guitarrística do Sr. Knofpfler. Tem muita guitarra, muito timbre foda e músicas de tirar o chapéu. Aqui tem Blues, Country, Rock, músicas na pegada do começo do Dire Straits, músicas grandiosas e aquelas bem soturnas que só o Sr. Knopfler poderia compor.

Esse disco demorou 3 anos pra ficar pronto, isso porque as sessões de gravação foram divididas em 2 partes, uma em Londres e a outra em Nashville.

Aqui o 'Caba' manda brasa mesmo na guitarra, e sem egoismo. Isso porque a partir daí, a presença de convidados nos seus discos se torna um hábito cada vez mais frequente. Mas nesse disco a coisa é simplesmente demais, pra mim, esse é o melhor disco da carreira pós Straits do Sr. Mark Knopfler.

[Sailing to Philadelphia - 2000]
SETLIST:

01- What it is

02- Sailing to Philadelphia
03- Who's your baby now
04- Baloney again
05- The last laugh
06- Silvertown blues
07- El Macho
08- Prairie wedding
09- Wanderlust
10- Speedway at Nazareth
11- Junkie doll
12- Sands of Nevada
13 -One more matinee

Nesse disco está o elo entre a maestria na guitarra, bons vocais e músicas rurais. Disco realmente épico.


Vintage Gear e nunca mais Pensa MK1...


Nesse disco volta a ativa a velha Fender Stratocaster 1961, usada poucas vezes no período do DS entre 1979 e 1980. E ela aparece logo na Straitaniana 'What it Is' e na filosófica 'Sailing to Philadelphia' Muita Les Paul em 'Silvertown Blues', 'Wanderlust', 'Junkie Doll' e na magnífica 'Speedway at Nazareth', assim como Gibson ES335, Telecaster 1952 e Gretcsh Country Gentleman

Todos os timbres vem de equipamentos vintage, não tem nada de modernidade aí. Tudo plugado em Marshalls JTM, Fender Twin e Fender Bassman (Baloney Again). A coisa mais nova aí é um Tone King.

Para a turnê, foram usadas Gibsons Les Pauls 58 e 59 ES335, Stratocasters 61 vermelha e uma 62 branca, Telecaster 52, Pensa MK2, Dobros e Martins. A partir daí, nunca mais a Pensa Suhr MK1 ou qualquer outra guitarra com EMG será vista nas mãos do Sr. Knopfler.

[Pegando fogo]
Aqui está a prova de que o homem estava decido a tocar guitarra pra caralho!

Qualquer coisa que você procurar no 'VocêTubo' do Sr. Knopfler ao vivo entre 2001 e 2002 é muito bom! As músicas ainda são aceleradas e com pegada forte. Sem dúvida, vale muito a pena apreciar seu amor pela guitarra nessa época.

Procurem também por 'Calling Elvis' ou 'Junkie Doll' ao vivo em 2001 que vocês não vão se arrepender de pegar uns licks do mestre.




Botando as barbas de molho....


Após a turnê do Sailing... Todo mundo esperava que o Sr. Knopfler viesse com mais uma pedrada, mas o que veio foi o contrário. Mark Knopfler, já demonstrando um certo cansaço, em quesitos guitarrísticos, começa a lançar materiais mais suaves e simples. Os próximos discos são calmos, mais voltados para o Country e a música vanguardista Européia do começo do século XIX. 

[Ragpicker's Dream]
Link do Album no GrooveShark Aqui!
Desse disco pra frente, não existem mais inovações guitarrísticas, apenas canções simples e bacanas, uma guitarra aqui e ali e bastante violão.

Os violões por sinal, viram os amigos do Sr. Knopfler daí pra frente.

Sempre usando equipamentos vintage, Mark embarca em um outro universo musical, por sinal, muito particular.
[Shangri-La - 2005]

As guitarras podem estar ficando de lado, um brilhosinho aqui outro ali, mas os timbres sempre melhorando e muito. Talvez essa seja a nova paixão guitarrística do Sr. Knopfler: O timbre. Isso porque sua principal paixão sempre foi compor!




[All The Roadrunning]

Logicamente que o Sr. Knopfler não deixa de compor maravilhosamente bem, seja o que for, sempre há um lirismo quase perfeito em suas músicas. Talvez o fato da sua paixão por tocar guitarra elétrica estar em baixa tenha o afastado da mídia, mas com certeza, pra ele, essa fase talvez seja sua liberdade pra fazer o que quiser.




[Kill to get Krimson]

Então Acabou...?


Não! Mark Knopfler sempre lança um disco a cada 2 anos. Sempre! Discos muito bonitos e bem timbrados.

Seus shows são 'mais do mesmo', porém com poucos solos de guitarra e músicas com o andamento reduzido. Sultans of Swing hoje, parece uma valsa de tão lenta que ficou. Na incrível 'Telegraph Road', Mark pega na guitarra apenas no sprint final, apenas pra constar.


[Get Lucky]
A partir de 2007, Mark Knopfler passa a gravar todo seu material em seu próprio estúdio, o aclamado 'Britsh Grove Studios'. 

Nesse estúdio, o Sr. Knopfler pode se deliciar com todo o equipamento vintage que quiser. Hoje, o Sr. Knopfler pode escolher entre umas 15 guitarras pra tocar em apenas uma música. Pode passar a tarde timbrando uma ES330 em 12 amplificadores diferentes.



Seu último disco, o duplo 'Privateering' lançado em 2013, é talvez seu melhor disco desde o 'Sailing to Philapelphia' tanto no quesito timbre, canções e performance. Mas, como é de "novo costume" do Sr. Knopfler, quem brilha mesmo nos discos são os convidados.

[Privateering]
Escute o Privateering aqui! 

Esse disco vale a pena! Mesmo!

Grandes canções, músicas envolventes, um disco quase contínuo. Como o 'The Wall', esse disco é pra ser ouvido do começo ao fim.

Pra quem é guitarrista, como eu, esse disco é uma aula de como se comportar no meio de uma banda de 9 caras!

Lógico que Mark ainda é capaz de fritar na guitarra, ele somente não quer mais. O que não tira seu brilho em nenhum momento.

Talvez hoje, o fato de não depender mais de um bom solo de guitarra ou de um 'mega hit' seja a vida que ele tanto quis. Talvez por isso, hoje ele tenha mais discos do que na época do Dire Straits. Como o próprio disse em 2001: -Costumava agonizar durante as gravações de guitarra dos Straits, hoje não mais.

Agora em 2014, Mark Knopfler, cada vez mais afastado de seu passado com os Straits, está preparando um novo disco e nunca se sabe o que está por vir. Estou ansioso pra mais uma lição!

É esperar pra ver!

Enquanto aguardamos, vamos apreciar o Sr. Knopfler relaxado e sua banda mandando ver em 'Telegraph Road'

[Telegraph Road - 2013]





E quem disse que misturar tudo isso que ele misturou, e fazer tudo o que ele fez é errado? Não basta só tocar guitarra que só a porra, tem que ter bagagem e saber compor muito bem. Nisso, o Sr. Knopfler, ao meu ver é imbatível.




E agora.... Acabou?


Acabou! Ufa! Por hora, chega do Sir Mark Knopfler!



Obrigado pra quem teve paciência de ler todo esse blá-blá-blá!

No próximo post, vou falar um pouco sobre o excêntrico Jeff Beck!


Obrigado e até já!
 

4 comentários:

  1. Parabéns pelo texto, comecei a ler e quando vi tinha acabado... Bom, só uma observação, sem muito (talvez nada eheh) a acrescentar nesse baita texto:

    O que achei legal, nessa jornada do MK, desde os "early ears" até seu último álbum foram as composições usando 3 guitarras. Talvez só em On Every Street elas tenham se reduzido a uma ou duas, visto que os teclados de Alan Clark estavam demais...

    Mesmo em Making Movies, quando David já havia deixado a banda, Mark optou por usar uma base com duas guitarras solos, com resultado não menos brilhante...

    Bom, se puderes, um dia, analisar ou corrigir alguma falha na minha observação sobre esse aspecto da obra de MK, será um privilégio ler outro texto teu.

    Um abraço!

    Oscar

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    Respostas
    1. Obrigado pelo comentário, Oscar.

      Também acho o MK um mestre na sobreposição de guitarras. Talvez o 'Making Movies' seja o álbum onde há mais sobreposições, camadas e overdubs dentre todos os seus trabalhos. Depois que os teclados invadiram a banda, o Sr. Knopfler deve ter se preocupado menos com tantas guitarras, visto que Alan e Guy, cada um com 16 braços, já faziam tudo.



      Abraço pra ti.

      Arthur

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