segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Jeff Beck, o 'Ame-o ou Deixe-o' - Parte 3

Juventude,


Continuando a saga guitarrística do 'Adolescente Beck', vou tentar chegar nos 'finalmentes' nesse post! Difícil, mas vou tentar!


Então, taca-lhe pau....


[Taca-lhe pau, Jefferson]
Mal do guitarrista que não canta: Ter sempre um vocalista nas costas!(em qualquer sentido).

Metido nessa frase, o então já consagrado 'Mr. Beck' vem aprontar mais uma.

Com o fim do JBG, 'El Becko' se junta com o  batera Tim Bogert e, o ainda não influenciado pelos penteados de cachorro, baixista Carmine Appice e formam um trio de veras bacana e com um nome bastante criativo: Beck, Bogert & Appice


Não disse que era criativo!? Olha esse "e comercial"... incrível!


Ahammmm.....


[BB&A ou JT&C]
Com esse nome bacana, a sonoridade tinha que ser compatível. E não foi diferente. Influenciado pelo Rockabilly, Funk e aquelas coisas estranhas mas bacanas que permeavam os anos 70. Beck, Bogert & Appice (adoro esse &) virou uma mutreta que deu bastante certo.

Deu tão certo que foram bater no Japão pra gravar um disco 'ao vivo'.



Enfim, no quesito guitarras, pra variar, é um show! Não sei porque, mas esse disco me lembra a sonoridade do 'Bad Company'... Suingue duro, sabe?

A banda está bem afiada, o disco é bem gravado e o casamento dos grooves está bem bacana e energético. Tem a participação de uns caboclos pra fazer "côÔÔôro" e adicionar uns tecladinhos aqui e alí.

Em resumo, as músicas são performances bem organizadas, talvez por isso o disco 'ao vivo' no Japão. To pra ver povo que gosta mais de performance e malabarismo que japonês.



Sim, mas o disco....?

É pra já! Vale a pena escutar as camadas de 'Black Cat Moan', os "riffs apressados" em Lady, mais camadas na desconhecida Superstition.

Nesse disco, 'El Becko' começa mesmo a gostar de uma alavancada, talvez a sua maior 'trademark'.

O maior problema, ao meu ver, desse disco, são as 'metalizadas' de Carmine Appice, que provavelmente já estava sendo abduzido pelo seu penteado futurista.
 
[BB&A - 1973]
1- Black Cat Moan
2- Lady
3- Oh To Love You
4- Superstition
5- Sweet Sweet Surrender
6- Why Should I Care?
7- Lose Myself With You
8- Livin' Alone
9- I'm So Proud 






Bacana, não! Pois é, não vou me alongar muito nessa fase de 'Mr. Beck', pois nem ele se alonga muito, isto é, durante as sessões para gravar o segundo disco, 'Jefferson, o estrano, Beck' desaparece do mapa e a banda "se acaba-se a si mesma própria".

Ah, sobre a "gear" usada por Beck com o 'Bogert & Appice', era a mesma do JBG, isto é, Fender Strato, Esquire, amplificadores Vox Ac30 e o drive basicamente um Colorsound. Também não pesquisei muito porque não me interessei muito por essa "vibe canábis" não!


'El Becko' é um cara meio estranho. Introspectivo, ele se cansa facilmente das coisas e acha que está sempre atrapalhando quem toca com ele.

Bem, mas toda essa "introspecção" talvez fosse o estopim para o que viria. Pra quem gosta de cinema, a trilogia que se seguirá levará Beck ao status de Semideus das 6 cordas.



Então vai lá, Desce o morro da Sovelina...


[Jazz-Rock é complexo..?]
No começo dos anos 70, um gênero esquisito povoava o cenário dos 'músicos fodões' do mundo todo, especialmente Inglaterra e Estados Unidos. O Jazz-Rock, cujo o nome já diz tudo, estava aí e o "povo" estava amarradão. Bandas como Mahavishnu Orchestra, Steely Dan, Soft Machine, Carlos Santana e outras, eram a apoteose das bandas instrumentais. 

Mas 'El Beckon' sentiu que faltava algo nesse negócio, isto é, todas as bandas de Jazz-Rock eram formadas por músicos de jazz que por ventura queriam "matar uma galinha" jogando uma pegada rock n' roll nas músicas semi-instrumentais.

Muita coisa do Jazz-Rock é encheção de linguiça, teclados estranhos, climas indecifráveis e músicas longas com o tema principal com no máximo 30 segundos.

Beck, então assessorado pelo genial George Martin, partiu para a empreitada "jazzista-rockista", porém fazendo o caminho inverso, isto é, Beck é um músico de Rock que partiu pro jazz, então, a abordagem das músicas seria o oposto do Jazz-Rock até então habitual.


Nessa brincadeira de criança (guardo ainda na lembrança), Beck, auxiliado pelo Beatle Gerge Martin, vem com o que é considerada sua obra prima....

Mas antes de falar desse disco, tenho que falar um pouco sobre as guitarras que iriam compor os timbres desse disco.



Guitarras.... Finalmente!



Guitarras, ora pois! Não sei exatamente em quais anos, mas até o começo das gravações do 'Blow by Blow', Jeff Beck estava a procura de alguma coisa que pudesse compor um novo timbre, algo forte e com bastante peso. Leia peso = sustain, madeira ressonante, timbre gordo...

[Les Paul 'Chocolate' OxBlood - 1954]
Durante um passeio por uma loja de instrumentos, Beck se deparou com uma guitarra achocolatada. Isso mesmo! Numa dessas peruadas que todo guitarrista faz pelas lojas de instrumentos, o 'Mortal Beck' encontrou uma Les Paul usada e repintada em 'Chocolate brown'. Na verdade era uma Gibson Les Paul 1954 com um par de PAFs sem a moldura e um braço mais fino.


Essa moça faz parte de boa parte do 'Blow by Blow'. Beck gostava tanto dela que a capa do disco é uma pintura dele com essa mocinha aí.

[Jeff on TV - 1974]
O próprio Jeff mostra um pouco do seu som "simplista" em um programa de tv. Jeff, mostra seus pedais, o talk-box e como tirar timbres de sua 'LP Chocolate'.

O programa lembra um pouco aquele em que Clapton aparece com sua 'Fool-SG' e fica mostrando como funciona a "novidade" da guitarra elétrica.

obs: Quem dera que os programas musicais de tv fossem assim até hoje!


[Fender Esquire - TeleGib - 197x]
Outra criança que chegou nas mãos dele foi sua famosa 'Tele Gib'. O interessante sobre essa guitarra é que ela foi moldada pelo Sir. Seymour Duncan em pessoa!

Não sei exatamente como foi, mas pelo que me lembro, quando Beck estava produzindo o 'Blow by Blow', Seymour Duncan pediu para que Jeffinho toca-se nessa tele modificada, dizendo que a pegada era similar a de sua querida Esquire!


[Beck e suas guitarras - por ele mesmo]
 Jeffinho adorou a guitarra e quis ficar com ela, Seymour 'o besta' Duncan, propôs uma troca entre a TeleGib e sua Esquire. Jeff topou na hora, e quando Seymour saiu do estúdio, Mr. Beck se "arrependeu", mas já era tarde demais. Ainda bem, pois eu acho essa guitarra foda. (Veja o vídeo)



De acordo com o Sr. Duncan, ele colocou 2 captadores Gibson PAF rebobinados de uma Flying V (palavras dele), cortou a ponte para adaptar o humbucking na ponte e, se eu não me engano, trocou também o braço por o de uma Telecaster 52.

Detalhe, esses captadores rebobinados, são a primeira versão do set "Seymour Duncan - JB/Jazz". JB adivinha porque? 


Foram feitas 2 TeleGibs, uma logicamente foi para as mãos hábeis de Mr. Beck e a outra ficou com Mr. Seymour himself.



OK, contadas as histórias das guitarras mais famosas de Jeff Beck até então, vamos ao disco!


Escute 'Blow by Blow' aqui no GrooveShark 


[Blow by Blow - 1975]
Aqui não! Esse disco é coisa de louco! É o divisor de águas do Jazz-Rock de todo o sempre.

Nesse disco, Jeffinho nos presenteia com tudo de bom e do melhor. Tem Steve Wonder, Beatles e mais um monte de pancada.

Jeff chamou seu amigo de outrora Max Middleton para dar aquele toque de "órgon" (minha avó adora falar órgon. Queria até que eu tocasse no órgon), o "Reggae boy" Phil Chen e para pegar na baquetas, o glorioso (nem sei quem é) Richard Bailey!

Setlist:
1- You Know What I Mean
2- She's a Woman
3- Constipated Duck
4 -Air Blower
5 -Scatterbrain
6- Cause We've Ended as Lovers

7 -Thelonius
8 -Freeway Jam
9 -Diamond Dust

Todas, repito, todas as músicas são simplistas. Simplistas e não simples. Parece fácil, mas não é!

Quase tudo foi gravado com o setup do 'vídeo da TV', isto é, um colorsound, um Cry Baby, Talk Box, um echo aqui outro alí. De guitarras são a 'Choco LP', TeleGib, Fender Strato e um violão só pra quebrar o clima.

Pelo que me lembro, foram usados 2 amplificadores para o disco todo. Um Vox AC15 e um Fender desses de 15W (Igual o do Larry Carlton em Kid Charmelagne). Tudo no talo!

O "riffáço" de Air Blower é mortal! A atmosfera dessa música e de todo o disco é singular e única. She's a Woman é um show, tem um clima relaxado que é demais. Diamond Dust é pra arrebentar a boca do balão! É do balacobaco! Bernie Holland, o compositor de Diamond Dust, afirma que a música aconteceu um tempão depois de pronta, quando ele desistiu de tocá-la em 'shuffle' e passou pra um 5/4.



Mas e o hino...? Cadê aquela que me parte o coração...?

 

'Cause We Ended Lovers' é outra história... Aqui quem manda é a TeleGib e ponto!

[É ela!]
Essa composição de Steve Wonder é de chorar. Harmonicamente falando, a música é bem simples, até entrar 2 acordezinhos que trazem uma sofisticação linda.

Fazendo uma análise guitarrística rápida, isto é, só acordes versus escalas...

Vejam que interessante soam as "modulações" dessa música:



Cause We Ended Lovers (Steve Wonder)
Tom: Cm


**************
Intro e solo:
Cm - G#Maj7 - Fm - GMaj7

A parte: Cm - G#Maj7 - Fm, a onda fica no 'C Eólio' mesmo, isto é:
C-D-Eb-F-G-G#-Bb

A onda fica bacana quando o acorde entra no GMaj7. Aqui dá pra encaixar 2 coisas legais que 'Jeffinho' não deixa passar:
- Penta de F#m em cima do GMaj7 (sem usar o G)
- C melódico menor: C-D-Eb-F-G-A-B
Notem que a tríade de Sol Maior está aí, mas pra fechar a tétrade, falta o F#. 

Eita, então dá pra adicionar a nota na escala. E o próprio Beck executa dessa forma quando as guitarras se cruzam quando começa o segundo giro do solo.

Então fica:
C-D-Eb-F-F#-G-A-B

Misturando mais ainda, dá pra usar a 'C Eólio' nessa onda também:
C-D-Eb-F-F#-G-A-Bb-B

Agora, não dá pra sair jogando essas notas todas 'ao léu' não! Tem que organizar a putaria!

Dentro dessas notas todas, tem outra escala mascarada aí:
G Harmônico Menor: G-A-Bb-C-D-Eb-F# (estou utilizando o Eb ao invés do D# só pra igualar com as outras escalas)

Como diz um amigo meu: -Tá com a pleura, menino! Isso tudin!

Isso tudinho sim! Organiza que funciona que é uma beleza!

**************
Verso:
Cm - GMaj7 - Fm - (Csus4 - C)

Mesma onda do solo, só que quando entrar pra parte do 'Csus4 - C' o tom muda pra C maior. Pode tocar a escala de Dó Maior mesmo!


**************
Ponte:
D/C - Fm - Bb - (Csus4 - C)

Demais não!? Essa modulação é uma brasa só!
Simplificando a abordagem:

-D/C: Tríade de D maior, Penta Menor de D (intenção blues), D Mixolídio ou até um A Dórico.

-Fm e Bb: Penta de Fm, F Dórico, Penta de Cm

-Csus4 - C: Tríade de C Maior.

**************

Pronto! É mais ou menos isso.
Me quebro toda vez que toco essa música!

Eu avisei que não era fácil!

  

Não cansou não...?


[Cansei...]
Cansei sim, e como prometido, não consegui terminar o post sobre o fabuloso 'El Becko'.

Até agora são só felicidades e notas bonitas. Acho que daqui a uns 4 posts chego na 'podreira' e nas 'enrascadas' que nosso pequeno Jeffinho se mete.



Vamos que vamos, porque o tempo 'Ruge'...



Não vai ter He-Man não...?
























That's All Folks!


Abraço apertado,
Arthur






 

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